Para estrear essa nova coluna do blog, trago uma entrevista com um autor que literalmente fabrica os livros dele. Toda a produção é feita de forma inteiramente artesanal.
Marcio Fernando Campos tem 34 anos e ingressou no mundo da escrita muito cedo. Desde os 4 ou 5 anos ele já brincava de ser escritor e fabricava seus próprios livros. A inspiração vinha dos filmes, os quais ele reescrevia a história se incluindo como personagem principal e modificava a história do jeito que ele desejava. Ele afirma que a família pensou que poderia ser apenas uma fase, mas se enganaram. "A escrita era meu ponto de fuga desse mundo em que vivemos e com qual eu nunca concordei", relata Marcio.
Livretos produzidos pelo autor. Foto: (Arquivo pessoal) |
Ele conta também que esse método de publicação (em livretos) dá uma certa autonomia e intimidade com o processo editorial, coisa que seria impossível com o intermédio de uma editora. "Tentei fugir dos meios atuais e ser o mais fiel à minha paixão pela literatura, fazendo todo o processo", conta.
Para a produção, ele utiliza papel reciclado no miolo, pois além de contribuir na questão ambiental, ele afirma que a leitura nesse tipo de papel é mais agradável do que no convencional. A diagramação, impressão e o grampeio das páginas também é feita por ele mesmo.
Autor Marcio Campos. Foto: (Arquivo pessoal) |
Entrevista:
Como é todo esse processo? Desde a produção até a divulgação?Nos três primeiros livretos que fiz, os textos já haviam sido produzidos há um tempo, então o cuidado foi mais com revisão/diagramação/impressão/encadernação/refilamento. Nessa ordem mesmo.
Geralmente, quem olha o livreto não tem ideia do que rola por trás e o tempo despendido para chegar ali.
Nos que estou produzindo agora, o material é inédito. Então demora mais pois partimos do zero até na escrita.
Boa parte deles já estão finalizados, falta só um na verdade. Que como é uma prosa longa, estou chegando numa voz próxima do conto que lancei inicialmente (aka "Cada um tem a Amy Winehouse que merece").
Você não planeja publicar em uma editora?
Seria hipócrita e contra o que acredito dizer que não o faria. Mas não prego como objetivo primordial lançá-lo por uma. Não fico correndo atrás delas para que lancem um livro meu. Acredito que o lançamento dos livretos seja mais uma forma de poder mostrar o meu trabalho inicialmente e tentar encontrar uma linha mais sólida de composição através dos feedbacks.
Caso alguém se interesse e queira lançar por uma editora, sempre estamos abertos a negociação. Mas tenho me divertido fazendo-os e divulgando-os.
Como tem sido o feedback dos leitores?
Inicialmente, achei que ia ser bombardeado. Acho que minha autocrítica é muito pesada. E surpreendentemente, todos os feedbacks tem sido bem positivos.
Mas o que mais me impressionou foi o retorno das histórias de vida dos leitores através dos meus escritos. Diversas vezes ouvi dos leitores: "aconteceu muito igual na minha vida..." e debatíamos sobre os acontecimentos.
O que me fez acreditar que consegui chegar (ou estou a caminho) de uma literatura que possa agradar as pessoas sem ser piegas e/ou forçar uma literatura que me foge.
Meu objetivo não é ser um "best seller", é agradar as pessoas,
Como faz para as pessoas interessadas adquirirem seus livretos?
Caso as pessoas queiram adquirir meus livretos podem entrar em contato pelo meu e-mail (campos.marcio@gmail.com) e negociamos a entrega/compra. Geralmente, faço o envio dos livretos por carta convencional e mando uma carta de próprio punho para o leitor (numa forma bem sutil/pouco convencional de intimidade). Prefiro assim, na verdade. Quebrar um pouco da velocidade que o mundo finge exigir e da plasticidade fake que o virtual nos proporciona.
Fiquem agora com uma "palinha" do trabalho do autor:
Shakespeare, downtempo!
E eis que a variação
mais brutal
contida nos pesadelos
de verão...
...é que as vertigens
que compõem tal meneio
são desatinos
sãos.
Por: Marcio Campos
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