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[Resenha] O amor nos tempos do ouro - Marina Carvalho

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    “O amor nos tempos do ouro”; autora: Marina Carvalho; Editora Globo Alt; 318 páginas.
     A história se inicia em 1734 em um período em que a escravidão ainda era uma realidade. E que as mulheres ainda não tinham a menor voz dentro da sociedade. Cécile é uma jovem francesa que perdeu toda sua família (pais e irmãos) em um trágico acidente onde ela foi a única sobrevivente e foi obrigada a viver com seu tio. Este, um homem muito mais interessado na herança da moça, tendo todo poder sobre ela, já que era o responsável legal, arranjou para ela um casamento com um homem conhecido pela arrogância e pela influência que exercia.
     Não tendo como evitar, ela foi entregue ao sujeito, não sem antes passar por uma longa viagem de percurso com Fernão, um homem que foi encarregado dessa tarefa. Por algum tempo, Cécile alimentou a esperança de que esse homem pudesse salvá-la de seu terrível destino. Apesar dele ser um desbravador intimidante, ela tentou implorar pela sua liberdade, o que foi negado impiedosamente.
     Por outro lado, Fernão, se arrepende de não ter atendido o pedido da francesa assim que a entrega e vê o quanto o futuro marido de Cécile a tratava mal, obrigando-a chama-lo de senhor, de pedir permissão para falar e outros machismos terríveis que eram costumes da época. Fernão, incomodado, resolveu ficar por perto para se certificar de que a moça ficaria bem.
    A princípio, ele pensava que ela iria se casar por conveniência, mas após o pedido dela ainda durante a viagem e depois ao ver que ela tratava os escravos com muito carinho, ele conseguiu enxergar o verdadeiro caráter dela e enquanto essa consciência foi tomada, um sentimento forte foi tomando conta dele, o que o estimulou a atender, um pouco atrasado, o pedido que ela fizera. Fernão propõe a ela que fujam.
“Tu és a mulher mais bela deste salão – declarou, sem conseguir se conter. Mas achou que a frase não soara como deveria. Logo, corrigiu-se: -Minto. És incomparavelmente linda, dona de uma beleza acima de todas as outras que já vi.”
    Toda a fuga é planejada. Além deles, mais três escravos estão incluídos, entre eles Malikah, que inclusive teve um envolvimento com o filho desse que viria a ser marido de Cécile. Fruto desse envolvimento, a escrava estava grávida e abandonada a própria sorte e apenas por causa de Fernão, ainda estava viva. Hassan, outro escravo, se convida para essa missão com o interesse de cuidar de Malikah.
     A ideia de Fernão era apenas dar a liberdade que Cécile merecia, mas já não podia mais negar que estava completamente apaixonado por essa moça tão delicada que ao mesmo tempo possuía uma grande força, pureza e empatia. Além de um imenso carisma.
 “Se for da vontade da moça, sim. E vosmecê, por amá-la, permitirá que ela viva onde e como quiser.”
     Quando a fuga enfim acontece, eles já esperavam por dificuldade, mas não pelas que passaram a enfrentar. Obviamente o feitor não deixaria isso para trás. E cinco pessoas não eram suficientes para conseguirem se manterem sozinhas vagando por aí, sobretudo tento uma gestante entre eles. E então as dificuldades foram surgindo cada vez mais, até Cécile se vê novamente perdendo as pessoas. E é dessa fraqueza que ela tira uma força incondicional para lutar e é nesse momento que uma das cenas mais lindas desse livro acontece.
     Em uma época de tanto machismo, é preciso uma “desbravadora” para impor o poder feminino e Cécile é um exemplo disso. Sem precisar menosprezar os atributos femininos, sem precisar minimizar o romance. Cécile é uma guerreira, assim como tantas mulheres que já sofreram caladas, mas que encontraram forças que não imaginava que tinha, no momento em que mais precisava.
O livro tem muita bagagem histórica. Relata com detalhes a realidade da época de escravidão, a época de mineração de ouro e de feitores. A época em que as mulheres eram simples “companhias”. A narrativa acompanha a época, trazendo o vocabulário falado, principalmente nos diálogos. O casal protagonista carrega uma bagagem cultural que vai sendo explorada e apresentada durante a trama. Ambos falam, em alguns momentos, na língua de seu país de origem e por isso, ao final do livro, tem “glossário”. E agora sou encantada pela expressão “mi iyaafin”.


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